segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A ROUPA NOVA DO REI



de Hans Christian Andersen

"Era uma vez um rei, tão exageradamente amigo de roupas novas, que nelas gastava todo o seu dinheiro. Ele não se preocupava com seus soldados, com o teatro ou com os passeios pela floresta, a não ser para exibir roupas novas. Para cada hora do dia, tinha uma roupa diferente. Em vez de o povo dizer, como de costume, com relação a outro rei: "Ele está em seu gabinete de trabalho", dizia "Ele está no seu quarto de vestir".

A vida era muito divertida na cidade onde ele vivia. Um dia, chegaram hóspedes estrangeiros ao palácio. Entre eles havia dois trapaceiros. Apresentaram-se como tecelões e gabavam-se de fabricar os mais lindos tecidos do mundo. Não só os padrões e as cores eram fora do comum, como, também as fazendas tinham a especialidade de parecer invisíveis às pessoas destituídas de inteligência, ou àquelas que não estavam aptas para os cargos que ocupavam.

"Essas fazendas devem ser esplêndidas, pensou o rei. Usando-as poderei descobrir quais os homens, no meu reino, que não estão em condições de ocupar seus postos, e poderei substituí-los pelos mais capazes... Ordenarei, então, que fabriquem certa quantidade deste tecido para mim."

Pagou aos dois tecelões uma grande quantia, adiantadamente, para que logo começassem a trabalhar. Eles trouxeram dois teares nos quais fingiram tecer, mas nada havia em suas lançadeiras. Exigiram que lhes fosse dada uma porção da mais cara linha de seda e ouro, que puseram imediatamente em suas bolsas, enquanto fingiam trabalhar nos teares vazios.

- Eu gostaria de saber como vai indo o trabalho dos tecelões, pensou o rei. Entretanto, sentiu-se um pouco embaraçado ao pensar que quem fosse estúpido, ou não tivesse capacidade para ocupar seu posto, não seria capaz de ver o tecido. Ele não tinha propriamente dúvidas a seu respeito, mas achou melhor mandar alguém primeiro, para ver o andamento do trabalho.

Todos na cidade conheciam o maravilhoso poder do tecido e cada qual estava mais ansioso para saber quão estúpido era o seu vizinho.

- Mandarei meu velho ministro observar o trabalho dos tecelões. Ele, melhor do que ninguém, poderá ver o tecido, pois é um homem inteligente e que desempenha suas funções com o máximo da perfeição, resolveu o rei.

Assim sendo, mandou o velho ministro ao quarto onde os dois embusteiros simulavam trabalhar nos teares vazios.

- "Deus nos acuda!!!" pensou o velho ministro, abrindo bem os olhos. "Não consigo ver nada!"

Não obstante, teve o cuidado de não declarar isso em voz alta. Os tecelões o convidaram para aproximar-se a fim de verificar se o tecido estava ficando bonito e apontavam para os teares. O pobre homem fixou a vista o mais que pode, mas não conseguiu ver coisa alguma.

- "Céus!, pensou ele. Será possível que eu seja um tolo? Se é assim, ninguém deverá sabê-lo e não direi a quem quer que seja que não vi o tecido."

- O senhor nada disse sobre a fazenda, queixou-se um dos tecelões.

- Oh, é muito bonita. É encantadora!! Respondeu o ministro, olhando através de seus óculos. O padrão é lindo e as cores estão muito bem combinadas. Direi ao rei que me agradou muito.

- Estamos encantados com a sua opinião, responderam os dois ao mesmo tempo e descreveram as cores e o padrão especial da fazenda. O velho ministro prestou muita atenção a tudo o que diziam, para poder reproduzi-lo diante do rei.

Os embusteiros pediram mais dinheiro, mais seda e ouro para prosseguir o trabalho. Puseram tudo em suas bolsas. Nem um fiapo foi posto nos teares, e continuaram fingindo que teciam. Algum tempo depois, o rei enviou outro fiel oficial para olhar o andamento do trabalho e saber se ficaria pronto em breve. A mesma coisa lhe aconteceu: olhou, tornou a olhar, mas só via os teares vazios.

- Não é lindo o tecido? Indagaram os tecelões, e deram-lhe as mais variadas explicações sobre o padrão e as cores.

"Eu penso que não sou um tolo, refletiu o homem. Se assim fosse, eu não estaria à altura do cargo que ocupo. Que coisa estranha!!"... Pôs-se então a elogiar as cores e o desenho do tecido e, depois, disse ao rei: "É uma verdadeira maravilha!!"

Todos na cidade não falavam noutra coisa senão nessa esplendida fazenda, de modo que o rei, muito curioso, resolveu vê-la, enquanto ainda estava nos teares. Acompanhado por um grupo de cortesões, entre os quais se achavam os dois que já tinham ido ver o imaginário tecido, foi ele visitar os dois astuciosos impostores. Eles estavam trabalhando mais do que nunca, nos teares vazios.

- É magnífico! Disseram os dois altos funcionários do rei. Veja Majestade, que delicadeza de desenho! Que combinação de cores! Apontavam para os teares vazios com receio de que os outros não estivessem vendo o tecido.

O rei, que nada via, horrorizado pensou: "Serei eu um tolo e não estarei em condições de ser rei? Nada pior do que isso poderia acontecer-me!" Então, bem alto, declarou:

- Que beleza! Realmente merece minha aprovação!! Por nada neste mundo ele confessaria que não tinha visto coisa nenhuma. Todos aqueles que o acompanhavam também não conseguiram ver a fazenda, mas exclamaram a uma só voz:

- Deslumbrante!! Magnífico!!

Aconselharam eles ao rei que usasse a nova roupa, feita daquele tecido, por ocasião de um desfile, que se ia realizar daí a alguns dias. O rei concedeu a cada um dos tecelões uma condecoração de cavaleiro, para seu usada na lapela, com o título "cavaleiro tecelão". Na noite que precedeu o desfile, os embusteiros fizeram serão. Queimaram dezesseis velas para que todos vissem o quanto estavam trabalhando, para aprontar a roupa. Fingiram tirar o tecido dos teares, cortaram a roupa no ar, com um par de tesouras enormes e coseram-na com agulhas sem linha. Afinal, disseram:

- Agora, a roupa do rei está pronta.

Sua Majestade, acompanhado dos cortesões, veio vestir a nova roupa. Os tecelões fingiam segurar alguma coisa e diziam: "aqui está a calça, aqui está o casaco, e aqui o manto. Estão leves como uma teia de aranha. Pode parecer a alguém que não há nada cobrindo a pessoa, mas aí é que está a beleza da fazenda".

- Sim! Concordaram todos, embora nada estivessem vendo.

- Poderia Vossa Majestade tirar a roupa? propuseram os embusteiros. Assim poderíamos vestir-lhe a nova, aqui, em frente ao espelho. O rei fez-lhes a vontade e eles fingiram vestir-lhe peça por peça. Sua majestade virava-se para lá e para cá, olhando-se no espelho e vendo sempre a mesma imagem, de seu corpo nu.

- Como lhe assentou bem o novo traje! Que lindas cores! Que bonito desenho! Diziam todos com medo de perderem seus postos se admitissem que não viam nada. O mestre de cerimônias anunciou:

- A carruagem está esperando à porta, para conduzir Sua Majestade, durante o desfile.

- Estou quase pronto, respondeu ele.

Mais uma vez, virou-se em frente ao espelho, numa atitude de quem está mesmo apreciando alguma coisa.

Os camareiros que iam segurar a cauda, inclinaram-se, como se fossem levantá-la do chão e foram caminhando, com as mãos no ar, sem dar a perceber que não estavam vendo roupa alguma. O rei caminhou à frente da carruagem, durante o desfile. O povo, nas calçadas e nas janelas, não querendo passar por tolo, exclamava:

- Que linda é a nova roupa do rei! Que belo manto! Que perfeição de tecido!

Nenhuma roupa do rei obtivera antes tamanho sucesso!

Porém, uma criança que estava entre a multidão, em sua imensa inocência, achou aquilo tudo muito estranho e gritou:

- Coitado!!! Ele está completamente nu!! O rei está nu!!

O povo, então, enchendo-se de coragem, começou a gritar:

- Ele está nu! Ele está nu!

O rei, ao ouvir esses comentários, ficou furioso por estar representando um papel tão ridículo! O desfile, entretanto, devia prosseguir, de modo que se manteve imperturbável e os camareiros continuaram a segurar-lhe a cauda invisível. Depois que tudo terminou, ele voltou ao palácio, de onde envergonhado, nunca mais pretendia sair. Somente depois de muito tempo, com o carinho e afeto demonstrado por seus cortesões e por todo o povo, também envergonhados por se deixarem enganar pelos falsos tecelões, e que clamavam pela volta do rei, é que ele resolveu se mostrar em breve aparições... Mas nunca mais se deixou levar pela vaidade e perdeu para sempre a mania de trocar de roupas a todo momento.

Quanto aos dois supostos tecelões, desapareceram misteriosamente, levando o dinheiro e os fios de seda e ouro. Mas, depois de algum tempo, chegou a notícia na corte, de que eles haviam tentando fazer o mesmo golpe em outro reino e haviam sido desmascarados, e agora cumpriam uma longa pena na prisão.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Mãos Dadas

Mãos Dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
Bjs
Carla Amorim

sábado, 16 de agosto de 2008

Insensato coração


Em vídeo de 1981, Gal Costa e Dorival Caymmi cantam Só Louco. O cantor e compositor baiano morreu neste sábado aos 94 anos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

LADOS OPOSTOS

DOIS BRASILEIROS EM LADOS OPOSTOS MAS NO MESMO LUGAR

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal.
Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco
dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de
profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à
sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Dotô, eu levo ou deixo os pato?"

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Garganta seca

Cadáver pede copo d'água na hora da autópsia

Indiano de 19 anos foi dado como morto depois megatumulto no templo. 'Acordei com a garganta seca no meio de vários corpos', lembra o rapaz.

Mange Ram, de 19 anos, perdeu a consciência depois de ser atropelado por uma multidão apavorada quando teve início um monumental tumulto no templo hindu de Naina Devi, na Índia, no dia 3 de agosto (domingo).

"Quando acordei, estava no meio de uma fileira de corpos esperando pela autópsia", disse Ram, ainda meio assustado, ao "The Times of India". "Minha garganta estava seca e eu pedi água. De repente, os médicos e enfermeiros do hospital Anandpur Sahib vieram pra cima de mim com cara de atordoados", lembra o rapaz. "Eles devem ter se espantado ao ver um homem morto voltar à vida desse jeito."

Na confusão, Mange Ram foi ensacado e enviado ao hospital, a 18 quilômetros do templo. Voluntários despreparados convocados para ajudar a pôr ordem na casa não perceberam que ele só estava desmaiado.

fonte: G1 [via O Verbo] [via PavaBlog]

Conhecimento do bem e do mal

A questão ao redor do conhecimento do bem e do mal não é meramente uma discussão a respeito de ter ou não ter consciência, de ser dotado ou não de senso moral, de ser ou não ser obediente, de comer ou não comer um fruto. Sou de opinião que acreditar que os critérios de Deus para seu relacionamento com a raça humana estejam baseados em obediência e desobediência é um absurdo não–cristão. O conflito entre Deus e a raça humana não é uma questão moral, mas sim relacional; não é uma questão de obediência ou de desobediência, mas de dependência e independência. O ato de desobediência, simbolizado em comer do fruto proibido, é um ato de rebelião, uma pretensa declaração de independência e de autonomia absoluta da criatura para com o Criador. Ser rebelde é muito mais do que ser desobediente.

por: Ed René Kivitz, do livro "Vivendo com Propósitos", p.87

SURPRESAS

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Para Ele


Por David Montealegre

Não conheço teu rosto, mas vi centenas deles, em meus irmãos.
Não conheço tuas mãos, mas vi como tocas.
Não conheço tuas pisadas, mas segui teus passos.
Não conheço tua voz, mas te vi gritar no meio de meu povo.
Não sei quem és incrível mistério, mas me assombram tuas formas, tuas luzes e escuridões.
Salva-me de não ver a dor do outro e da outra.
Salva-me de não sentir a dor do outro e da outra.
Salva-me de estar e não ser.
Salve-me de minha idéia de ti.
Salve-me de fazer-te uma casa que não seja minha vida.
Salva-me de crer-te verdade em minha igreja.
Salva-me de crer-te definível.

Salva-me de perder a lembrança sobre a dor de meu povo.
Salva-me de perder o gozo de ver-te no meio do pranto dos meninos sem mãe.
Salva-me de achar que tenho razão.
Quero optar um dia para minha morte, tu optaste um para a tua.
Não há liberdade maior que se saber livre para viver.
Não há liberdade maior que se reconhecer igual ao outro e à outra.
Não há liberdade maior que se saber débil ante o silêncio do rosto do sofrimento.
Não há liberdade maior que se observar no meio da dúvida.
Não há liberdade maior que abrir os olhos e ver os montes de minha terra agora banhados em sangue que esperam que a chuva de justiça os banhe de cristalino perdão.
Livra-me de não amar até a dor.

Mulher Melancia daqui a alguns meses

domingo, 10 de agosto de 2008

A imagem fala por si...



sexta-feira, 8 de agosto de 2008

No último dia de nossas vidas

Creio que, no último dia de nossas vidas, antes de atravessarmos o rio rumo à eternidade, passaremos pelo tribunal da consciência, em que nós mesmos julgaremos a vida que tivemos. Seremos ao mesmo tempo réus e juízes. Naquele dia, deveremos estabelecer o veredicto a respeito do sentido da vida e concluir se valeu ou não a pena viver. Naquele dia, não fará a menor diferença a casa onde moramos, o carro que dirigimos, as vezes que visitamos a Europa, os diplomas que penduramos na parede, o número de romances que tivemos ou as roupas que vestimos. Acredito que estaremos diante de quatro perguntas, cada uma delas ligada à imagem de Deus e aos propósitos pelos quais deveríamos ter vivido. São elas:

  • Onde está Deus?
  • Que tipo de gente eu me tornei?
  • Onde estão as pessoas que eu amo e que me amam?
  • Qual foi minha contribuição para o bem da raça humana?
Ed René Kivitz, do livro "Vivendo com Propósitos", p. 80, 81.