Proveniente do grego clássico leitourgia (verbo leitourghéin; substantivo de pessoa: leitourgós) deriva da composição de laós jônico e ático leós (=povo) e de ergon (=obra). Traduzido literalmente significa “serviço prestado ao povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”. Usada no âmbito civil.
Em sua origem e termo indicava a obra, a ação ou a iniciativa assumida livremente por um particular (indivíduo ou família) em favor do povo, ou do bairro, ou da cidade, ou do Estado.
Com o passar do tempo, a mesma obra, perdeu, quer por institucionalização, quer por imposição, o seu caráter ‘livre’. Sendo assim, passou a ser chamado de ‘liturgia’ qualquer trabalho que importasse em ‘serviço’ mais ou menos obrigatório, prestado ao Estado ou à divindade (serviço religioso) ou a um particular. Assim existiam diversos tipos de liturgia como a apresentação do coro no teatro grego, o armamento do navio, o acolhimento de uma tribo nas ocasiões das festas nacionais, etc. Mais tarde no Egito, com esta palavra se entendia qualquer prestação pública de serviço e do século II a.C. também o serviço cultual prestado por pessoas para isto designadas.
Por "Liturgia" se entendia na Grécia clássica, isto é, pelo séc. VI antes de Cristo, um serviço público feito para o povo por alguém de posses. Este realizava tal serviço ou de forma livre ou porque se sentia como que obrigado a fazê-lo, por ocupar elevada posição social e econômica. Assim, eram "Liturgias" a promoção de festas populares, a promoção de jogos olímpicos ou o custeio de um destacamento militar ou de uma nave de guerra em momentos de conflitos.
A seguir, na época helenística, séc. III a I antes de Cristo, a palavra vai mudar de sentido. Ora, como sabemos, as palavras numa língua viva costumam mudar o seu significado ao longo do tempo, e isso podemos facilmente comprovar na nossa própria língua. Assim, na época helenística "Liturgia" vai passar a designar seja um trabalho obrigatório realizado por um determinado grupo como castigo por alguma desobediência contra o poder constituído, ou trabalho em reconhecimento a honras recebidas. Também por "Liturgia" começa-se a entender o serviço do servo para com seu senhor ou um favorzinho de um amigo para com o outro. E aqui o termo perde aquele caráter de serviço público, para a coletividade, que era seu componente essencial.
Todavia, nesta mesma época helenística, começamos a ver o termo "Liturgia" sendo usado cada vez mais em sentido religioso-cultual, para indicar o serviço que algumas pessoas previamente escolhidas prestavam aos deuses. E é precisamente neste sentido técnico de serviço que se presta a Deus que a palavra vai entrar no Antigo Testamento e, tempos mais tarde, será acolhida no mundo cristão.
De fato, no texto do Antigo Testamento em hebraico, traduzido ainda antes de Cristo para o grego (por volta do ano 200 em Alexandria, Egito) e chamado tradução dos LXX (porque, conforme se sustenta, foi traduzido por 70 homens sábios), "Liturgia" aparece cerca de 170 vezes, designando sempre o culto prestado a Javé, não por qualquer pessoa, mas apenas pelos Sacerdotes e pelos Levitas no Templo de Jerusalém. Já quando se refere ao culto prestado a Javé pelo povo, a palavra utilizada pelos LXX não é jamais "Liturgia", mas latría ou doulía. Isso por si só já nos indica que os tradutores dos LXX fizeram uma escolha consciente deste termo "Liturgia", dando-lhe um sentido técnico preciso para indicar somente o culto oficial destinado a Javé e realizado por uma categoria toda particular de pessoas reservadas para isso: os Sacerdotes hebraicos.
No Novo Testamento o termo "Liturgia" vai aparecer apenas 15 vezes: 05 vezes com significado profano; 04 vezes com significado ritual-sacerdotal; 03 vezes com significado de culto espiritual e ritual cristão (Rm 15,6); para Paulo, pregar o Evangelho é ação litúrgico-sacerdotal (Fl 2,17 a liturgia de fé, At 13,2). Encontramos aí o significado mais próximo ao que será chamado Liturgia Cristã: “oração comunitária da comunidade cristã”. E a razão de um tal desprezo dele pelo NT parece dever-se exatamente ao fato de "Liturgia" recordar de maneira muito clara e direta os sacrifícios realizados no Templo e que foram tantas vezes e de tantos modos duramente criticados pelos profetas de Israel, por não serem verdadeira expressão de amor e agradecimento a Deus pelos benefícios recebidos ou sinal de conversão dos pecados. Nestes sacrifícios, em geral, não aparecia o coração do homem; e este tipo de culto Deus jamais pode aceitar (cf. Sl 39,7-9; 49,14.23; 50,18-19; 68,31-32; 140,2; Is 1,10-20; Jr 7,3-11; Os 6,6; 8,11-13; Am 5,21-25).
No cristianismo primitivo o termo "Liturgia" também resiste a aparecer. Os primeiros cristãos adotando o "espiritualismo cultual", isto é, aquele tipo de culto realizado em "espírito e verdade", não mais ligado às instituições do sacerdócio ou do templo, seja o de Jerusalém ou de Garizim (cf. Jo 4,19-26), não sentem a necessidade de utilizar uma palavra que havia servido para identificar explicitamente um culto oficial, feito segundo regras precisas, tal qual era o sacrifício hebraico, vazio de espírito e rico de exterioridade. Mas já na Igreja pós-apostólica, "Liturgia" vai perdendo parte de seu aspecto negativo e começa a distinguir os ritos do culto cristão, como se vê em documentos como a Didaché ou Doutrina dos Apóstolos, escrita entre os anos 80 e 90 de nossa era e na 1ª Carta de Clemente Romano aos Coríntios, de cerca do ano 96.
Fonte: Paróquia Santa Luzia e Santo Expedito [via MangaChurch][via http://thiagomendanha.blogspot.com/]
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Liturgia
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
“DEUS” COMO DIABO E O DIABO COMO “DEUS”
Fonte: http://www.caiofabio.com/2009/conteudo.asp?codigo=04311
Muita gente me escreve de fato na dúvida, querendo uma confirmação...
Outros, no entanto, escrevem querendo uma validação para o que já decidiram.
Outros ainda escrevem por estarem mesmo completamente perdidos, sem saber o que fazer.
Há ainda os que escrevem apenas por curiosidade, desejosos de apenas saberem o que digo, às vezes até para discutirem com outros...
Respondo a tudo o que consigo, com todo amor. Aliás, somente separar o tempo, no meio de tantas coisas, para responder cartas e cartas, creia, somente se for pela força do amor, pois, muitas vezes, a alma fica sem ânimo ante um trabalho sem fim.
Quando leio uma carta, em geral vejo que a própria carta já trás consigo a própria resposta que a pessoa carece.
Entretanto, a pessoa menciona a solução como problema ou impossibilidade da vontade de realizar.
Sim! A maioria sabe o que fazer, mas apenas não o deseja ou diz que não consegue por não querer conseguir.
Isto porque quando se está tomado pela força do desejo, da paixão, da fixação orgulhosa ou do egoísmo inflexível, fica-se cego para tudo aquilo que, de outra forma, saberíamos exatamente o que é e como proceder.
Ora, isto apenas mostra que grande parte do que nós chamamos “meu problema”, quase sempre deveria ser chamado apenas de “meu desejo”.
Então, nesse caso, estabelece-se a luta entre a consciência fragilizada e o desejo ou a idéia fixa; e, quase sempre o desejo vence para a problematização e a infernização da vida da pessoa.
Afora os problemas que envolvem circunstancias complexas ou problemas mentais, os demais são apenas caminhos criados pelo desejo.
E mais: quando não são criados pelo desejo são criados pela necessidade moldada pelo grupo a que se pertence, no caso, a “igreja”.
Sim! A maior parte dos problemas que aqui trato ou respondo, são problemas que decorrem do sexo reprimido, e que, uma vez solto, descaceta a pessoa e a põe como que ladeira abaixo... sem controle e de modo completamente compulsivo.
Então, quando não seja sexo o problema, no entanto, quase sempre os demais problemas decorrem da culpa herdada pelos excessos neuróticos da “igreja”.
Uma pessoa “de fora” lê as angustias aqui expressas por muitos, e não entende nada. Algumas me escrevem querendo saber se, caso se convertam, ficarão com aquelas mesmas seqüelas dos crentes.
Ao respondê-las sobre isto digo “não”.
Digo que dependerá do que a pessoa tiver na mente, de que grupo freqüente, e, sobretudo, de como se fundamente a fé da pessoa, se na Palavra de Deus ou nas doutrinas dos homens.
O fato é que o Evangelho mesmo, sozinho, sem “igreja” e sem “doutrinação moral”, jamais poderia fazer mal a ninguém.
E mais: sem os “pastores-lobos” ou sem os “pastores-perdidos”, nenhuma pregação do Evangelho criará nada na pessoa que não seja vida e paz.
Porém, o uso errado do Evangelho, misturado com toda essa confusão de “igreja”, adoece a alma tanto ou mais que uma boa macumba, posto que tudo seja feito em nome de Jesus, o que faz com que a alma se perturbe mais do que quando pratica a mentira em nome do diabo.
Macumba faz menos mal à mente do que uma crença cristã sem Deus.
Sim! Pois na macumba ninguém vai pensando em bondade ou em Deus. Lá tudo é como é; ou seja: existe a franqueza do objetivo maldoso e manipulador.
É melhor lidar com o diabo como diabo do que com o diabo como “Deus”, que é o que acontece na crença cristã sem Deus, sem Jesus e sem Evangelho.
Digo isto porque pior do que o diabo é “Deus” como um diabo.
Ora, a maioria dos crentes, na prática, lida com “Deus” como diabo e com o diabo como “Deus”.
“Deus” como diabo porque o “Deus” dos crentes é tão cheio de venetas malucas e perversas como um diabo.
Diabo como “Deus” porque o diabo dos crentes é, na prática, em geral mais poderoso do que “Deus”.
Assim, o “crente” segue oprimido por “Deus” e pelo diabo; e mais: pelo “diabo” dos “crentes”, que é mais poderoso do que o diabo real.
Ora, a maior dificuldade do Evangelho no coração dos crentes viciados em “Deus” como diabo e no diabo como “Deus” está no fato de que eles não sabem fazer a diferença.
Sim! Deus e o diabo se parecem muito na cabeça dos “crentes”.
Na maioria das vezes o que distingue um do outro é apenas o discurso, pois, na prática, eles, “Deus e o diabo”, se parecem muito.
Ora, tal ambigüidade e ambivalência em Deus e no diabo é o que faz a devoção dos crentes um exercício de medo e pânico.
Por isto os “crentes” não gostam de silencio, nem de quietude e nem de culto sem muita agitação, pois, no silencio mora a indefinição entre “Deus” e o “diabo”.
Se você não entendeu ainda nada, digo:
Quando você se converter entenderá então tudo o que estou dizendo e verá tudo com extrema clareza.
Até lá, todavia, fica a dúvida, a qual eu provoco em você na intenção de ver se sua mente fica livre do “Deus/diabo” e do “diabo/Deus”.
Pense nisto!
Nele, que é amor,
Caio
4 de fevereiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF