quinta-feira, 31 de julho de 2008

A INGENUIDADE DOS CRISTÃOS SEGUNDO OS PAGÃOS

A INGENUIDADE DOS CRISTÃOS SEGUNDO OS PAGÃOS

Por Carlos Martins Nabeto

Fonte: Agnus Dei

O escritor grego Luciano de Samósata (Síria) foi um dos maiores críticos da sociedade de sua época, criticando, entre outros, seus valores filosóficos e religiosos.

Na obra "A Morte do Peregrino", escrita por volta do ano 180, apresenta os cristãos como pessoas crédulas e ingênuas na passagem onde narra sobre um trapaceiro fanfarrão que explora a boa fé destes.

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Antes de tudo, esses infelizes estão convencidos de que são imortais e de que viverão para sempre. Por isso, desprezam a morte e muitos a enfrentam voluntariamente. Seu primeiro legislador os convenceu de que eram todos irmãos. A partir do momento em que renunciaram os deuses da Grécia, passaram a adorar seu sofista crucificado e amoldaram suas vidas aos seus preceitos. Eles também desprezam todos os bens, mantendo-os para uso comum [...]. Se entre eles aparecer um hábil impostor, que saiba se beneficiar da situação, este se enriquecerá rapidamente pois poderá manipular como quiser essas pessoas que nada percebem.



Para citar este artigo:

NABETO, Carlos Martins. Apostolado Veritatis Splendor: A INGENUIDADE DOS CRISTÃOS SEGUNDO OS PAGÃOS. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/1228. Desde 6/9/2003.

PSEUDOTRANSCENDÊNCIA

Do livro “Vivendo com Propósitos” – Ed René Kivitz, p. 27 e 28

Por essas e outras, os templos e terreiros estão lotados, os gurus exotéricos_ e esotéricos estão em alta, e o misticismo varre as ruas com propostas inacreditáveis. As crendices e superstições que tecem a cultura do primitivismo religioso quase nos fazem acreditar que estamos de volta à idade das trevas. Desenvolve–se uma espiritualidade tribal, em que Deus torna–se um ídolo, de esquina que deve ser acessado para uma negociação, na qual os benefícios da divindade nada têm a ver com a seriedade do suplicante, pois pouquíssima gente tem forças para trilhar o caminho da transformação de dentro para fora. A experiência espiritual moderna, ou pós moderna, como preferem alguns, é na verdade, medieval. Primeiro porque vê Deus como um meio e não como um fim em si mesmo. Deus passou a estar a serviço do fiel, responsável por realizar seus desejos, sob pena de ser abandonado e considerado um Deus ausente, distante, omisso e lento demais para suprir as demandas dos desafios da vida.

Em segundo lugar, a espiritualidade contemporânea reserva muitos lugares para crédulos que acreditam no conforto produzido por uma fé mágica. É fita do Bonfim e do despacho, dízimos e correntes de fé, benzimentos e passes, jejuns e vigílias, novenas e procissões para tudo que é lado.

Sem dúvida, essa é uma experiência espiritual movida pelos paradigmas da auto–ajuda. Primeiro porque está centrada no indivíduo e seu desconforto, e tudo quanto espera lograr do contato com a divindade, qualquer que seja ela, é a melhora da situação em termos de "solução de problemas, de progresso social e bem–estar pessoal".

Mas, também, essa espiritualidade pós–moderna made–in movimento de auto–ajuda é cheia de truques e de artifícios para a conquista dos objetivos propostos. Assim como existem livros ensinando a fazer amigos e influenciar pessoas, existem outros tantos que ensinam "a oração que move a mão de Deus". Da mesma maneira como os neurolinguistas ensinam a "programação mental", os líderes espirituais ensinam a "programação dos deuses", mostrando que é impossível que os deuses não se comovam em favor de uma pessoa que acende uma vela, sobe uma escada de joelho, participa da corrente da fé, oferece donativos na creche do bairro, serve champanhe e cachaça nas esquinas escuras. Sem dúvida, aparentemente, uma espiritualidade de manipulação dos espíritos, mas certamente uma experiência de escravidão aos ritos, aos métodos e, principalmente, aos espíritos que por trás dessas coisas se escondem. Infelizmente, na tentativa de agarrar a vida pelo colarinho e de fazê–la vomitar prosperidade e conforto, vale tudo, ou quase tudo.

Essas experiências espirituais contemporâneas podem ser chamadas de pseudotranscendência. Apresso–me a dizer que nada é mais legítimo do que a busca de Deus, transcender no sentido religioso do termo. Mas o perigo está na pseudotranscendência, que Leonardo Boff compara com a experiência das drogas. Ele diz que "o problema da droga não é a viagem, é a volta da viagem, quando então não se suporta mais o cotidiano".7

De fato, existe muita gente querendo transcender, fazer contato com o sagrado, para que seus mundos sejam mudados: um novo emprego, uma cura, um conforto a mais. Outros desejam alívio, precisando de doses cada vez mais fortes de êxtases, e acabam alienando–se da realidade, ficando anestesiados para a experiência de viver, isolados no mundo da fantasia produzida pela experiência de arrebatamento. Nesse sentido, o critério para saber se uma experiência de transcendência é boa é a verificação do efeito que traz sobre o indivíduo: ela potencializa o ser humano ou o diminui? Em que medida essa experiência capacita o ser humano e o qualifica a enfrentar o cotidiano? A pseudotranscendência escraviza. A transcendência qualifica para a vida.

Uma experiência espiritual que funciona como válvula de escape, manipulação mágica da realidade e desculpa para a transferência de responsabilidades não pode ser considerada caminho para a felicidade, mas apenas rota de fuga e de alienação, que resulta em escravidão.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Boas-novas para os pobres - Søren Kierkegaard

Boas-novas para os pobres - Søren Kierkegaard

Tradução: K-fé (do Inglês)

Fonte: Provocations: Spiritual Writings of Søren Kierkegaard

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Boas-novas para os pobres

Cristo não estava fazendo uma observação histórica quando declarou que o evangelho é pregado aos pobres. A ênfase está nas boas-novas, que as boas-novas são para os pobres. Aqui a palavra "pobres" não quer dizer simplesmente pobreza mas todos que sofrem, são desafortunados, miseráveis, injustiçados, oprimidos, aleijados, coxos, leprosos e endemoninhados. O evangelho é pregado a eles, isto é, as boas-novas são para eles. O evangelho é boas notícias para eles. Que boas notícias? Não é dinheiro, saúde, status, etc. Não, isto não é Cristianismo.

Não, para os pobres o evangelho é boas-novas porque ser desafortunado neste mundo (de uma forma em que a pessoa é abandonada pela simpatia humana, e o apreço mundano pela vida até tenta cruelmente transformar o infortúnio da pessoa em culpa) é um sinal da proximidade de Deus. Foi assim que era originalmente; estas são as boas-novas no Novo Testamento. São pregadas para "os pobres", e são pregadas para os pobres que se não estivessem sofrendo de outras formas, iriam eventualmente sofrer ao proclamar o evangelho; já que sofrimento é inseparável de seguir a Cristo e de dizer a verdade. Mas logo veio mudança. Quando pregar o evangelho se tornou meio de subsistência, até mesmo profissão de luxo, o evangelho se tornou boas-novas para os ricos e para os poderosos. De que outra forma iria o pregador manter e garantir eminência e dignidade se o cristianismo não garantisse o melhor para todos? O cristianismo, portanto, deixou de ser boas notícias para aqueles que sofrem, uma mensagem de esperança que transforma sofrimento em alegria, mas virou uma garantia de deleite na vida intensificada e garantida pela esperança de eternidade. As boas-novas não beneficiam mais os pobres, essencialmente. Na verdade, o cristianismo tornou uma extrema injustiça para aqueles que sofrem (embora não estejamos sempre conscientes disto, e certamente não dispostos a admiti-lo). Hoje as boas-novas são pregadas aos ricos, aos poderosos, que descobriram que ele é vantajoso. Voltamos ao mesmo estágio original ao qual o cristianismo queria se opôr! Os ricos e os poderosos não somente acabam ficando com tudo, mas seus sucessos se tornam a marca da sua piedade, o sinal dos seus relacionamentos com Deus. E isto leva à antiga atrocidade de novo, a saber, a idéia que o desafortunado, os pobres são culpados pela sua própria condição; que é assim porque não são piedosos o suficiente, não são cristãos verdadeiros, porque são pobres, enquanto os ricos têm não apenas prazer mas piedade também. E isto dizem ser cristianismo. Compare-o com o Novo Testamento, e vocês verão que isto está o mais longe possível do Novo Testamento.

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Fonte: http://gustavofrederico.blogspot.com/

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Graça: Uma Mensagem Terrível


Graça: Uma Mensagem Terrível

Secretamente admitimos que o chamado de Jesus é exigente demais, que a entrega ao Espírito Santo está além do nosso alcance. Passamos a agir como todo mundo. A vida assume uma qualidade vazia e desprovida de contentamento. Começamos a lembrar o personagem principal na peça de Eugene O'Neill O Grande Deus Brown: "Por que tenho medo de dançar, eu que amo a música e o ritmo e a graça e a canção e o riso? Por que tenho medo de viver, eu que amo a vida e a beleza da carne e as cores vivas da terra e o céu e o mar? Por que tenho medo de amar, eu que amo o amor?".

Algo está muito errado.

Nosso afã de impressionar a Deus, nossa luta pelos méritos de estrelas douradas, nossa afobação por tentar consertar a nós mesmos ao mesmo tempo em que escondemos nossa mesquinharia e
chafurdamos na culpa são repugnantes para Deus e uma negação aberta do evangelho da graça. Nossa abordagem da vida cristã é tão absurda quanto o jovem que depois de receber a sua licença de encanador foi levado para ver as cataratas do Niágara. Ele estudou-as por um minuto e depois disse: "Acho que tenho como consertar isso".

A palavra graça, em si, tornou-se banal e desgastada pelo mau uso e pelo uso em excesso. Ela não mexe conosco da mesma forma que mexia com nossos ancestrais cristãos. Em alguns países europeus, certos oficiais eclesiásticos de alto escalão são ainda chamados de "Sua Graça". Jornalistas esportivos falam da "graça fluente" de Michael Jordan, e já foi dito do empreendedor Donald Trump que ele "carece de graça". Surge um novo perfume com o rótulo "Graça", e um boletim de estudante é chamado de "desgraça". A palavra perdeu o seu poder criativo latente. Fyodor Dostoievski capturou o choque e o escândalo do evangelho da graça quando escreveu: "No último julgamento Cristo nos dirá: "Vinde, vós também! Vinde, bêbados! Vinde, vacilantes! Vinde, filhos do opróbrio!" E dir-nos-á: "Seres vis, vós que sois à imagem da besta e trazem a sua marca, vinde porém da mesma forma, vós também!" E os sábios e prudentes dirão: "Senhor, por que os acolhes?" E ele dirá: "Se os acolho, homens sábios, se os acolho, homens prudentes, é porque nenhum deles foi jamais julgado digno". E ele estenderá os seus braços, e cairemos a seus pés, e choraremos e soluçaremos, e então compreenderemos tudo, compreenderemos o evangelho da graça! Senhor, venha o teu reino!".

Creio que a Reforma realmente começou no dia em que Martinho Lutero orou sobre o significado das palavras de Paulo em Romanos 1:17: "visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé". Como muitos cristãos dos nossos dias, Lutero se debatia noite adentro com a questão fundamental: de que forma o evangelho de Cristo podia ser realmente chamado de "Boa Nova" se Deus é um juiz justo que retribui aos bons e pune os perversos? Será que Jesus veio realmente revelar essa terrível mensagem? De que forma a revelação de Deus em Cristo Jesus podia ser acuradamente chamada de "Nova", já que o Antigo Testamento defendia o mesmo tema, ou de "Boa", com a ameaça de punição suspensa como uma nuvem escura sobre o vale da história?

Brennan Manning em O Evangelho Maltrapilho

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Noite Escura



Noite escura

A noite escura vem. Desceu sobre mim, cobriu a todos nós. Não é a noite do filme, do herói e do vilão das histórias em quadrinhos. A noite escura é a do vale, de sombra e de morte.

A noite escura vem pesada, silenciosa e misteriosa. A noite vem, e é real.

Sozinho me deparo com a escuridão. Sozinho com meus medos, temores. E o frio que toma conta do corpo e da alma.

A noite escura vem. Profunda, arrebatadora. E intimidadora.

Deus! Sinto algo dentro de mim me acalmando. Não há mais arrepios, a boca esta serena, o olhar está firme – apesar de nada ver e de nada murmurar.

A noite toma conta do espaço, do chão e do tempo. Noite escura e cortante.

Deus se manifesta no meu estado, na minha frágil certeza, na minha angustiante esperança. O tempo deve passar. O tempo vai passar. É isso: eu espero, imóvel. Deus age. É Ele em movimentos.

Eis que no horizonte vejo a aurora. O sol vem transformar tudo. Onde estás noite escura?

Fonte: Volney Faustini

Dietrich Bonhoeffer



Dietrich Bonhoeffer

Na manhã do dia 6 de abril de 1945, entre as 5 e as 6 horas, os prisioneiros [...] foram retirados de suas células e o julgamento do tribunal de guerra lhes foi comunicado. Pela porta entreaberta de um quarto, no acampamento, eu vi, antes que os condenados fossem despidos, o pastor Bonhoeffer de joelhos diante de seu Deus em uma intensa oração. A maneira perfeitamente submissa e certa de ser atendida com que esse homem extraordinariamente simpático orava me emocionou profundamente. No local da execução, ele orou novamente e depois subiu corajosamente os degraus do patíbulo. A sua morte ocorreu em alguns segundos. Em cinqüenta anos de prática, jamais vi um homem morrer tão completamente nas mãos de Deus.

[Testemunho do médico do campo de concentração nazista Flossenburg, citado em D. Rance. Un siècle de temóins. Paris: Fayard-Le Sarment, 2000]

Fonte:
Galilea

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Gostosa simplicidade do Reino


Gostosa simplicidade do Reino

por Caio Fábio - www.caiofabio.com

Quem se ergue na ponta dos pés desejando se mostrar, não pode ficar por muito tempo nessa posição, pois logo cansará.

Quem abre demais as pernas não pode andar direito, assim como aquele que deseja abraçar o mundo com as pernas.

Quem se interpõe na luz não pode luzir, pois só projeta sombra.

Quem reivindica valor a si mesmo não é valorizado por ninguém.

Quem se julga importante acaba por não merecer importância.

Quem se louva a si mesmo não é grande, mas muito, muito pequeno.

Tais atitudes são detestáveis no Reino de Deus. Jesus disse que são abominação aos poderes celestes.

Assim, fuja também você de todas essas coisas, pois parecem inocentes, mas destroem o caminho da verdadeira vida.

Quem tem consciência da sua dignidade — que é ser veículo do amor de Deus —, abstém-se de tais atitudes e atos, pois sabe que eles não combinam com os céus.

O caminho para diminuir alguém começa por primeiro engrandecê-lo. Por isto, os que querem abater alguém, primeiro bajulam-no e fortalecem-no.

Os maus sabem que para fazer cair alguém deve-se primeiro exaltá-lo.

Os de bom coração, todavia, sabem que para receber algo, deve-se primeiro dá-lo.

Tudo o que é bom nesta vida deve antes ser amadurecido pelo tempo e pelo amor.

O homem fraco-flexível é mais forte que o forte e rígido, e que arrogantemente anda conforme sua própria força.

Também fique sabendo o seguinte:

Quem vive nas profundezas do seu ser nem pensa em "virtuosidade", pois dele brotam espontaneamente as íntimas forças da vida.

Quem vive na superfície do existir não pode fazer brotar as forças profundas de dentro de seu ser.

Quem vive nos abismos angustiados da sua alma acaba por ignorar a bondade no seu agir.

Quem vive na superfície da sua alma age egoisticamente, visando fins externos.

O amor impele ao agir, mas não quer nada para si.

O direito impele ao agir e, se não consegue o que quer, recorre à violência.

Por esta razão reconheça que quem não tem visão de Deus age por virtuosidade pessoal. Mas quem conhece a Deus não tem virtuosidade própria, por isso age pelo amor e pela misericórdia.

Quem nem disto é capaz, obedece a ritos e tradições!

Mas a dependência de ritualismos é o menor grau da consciência. É mesmo o início da decadência. Quem julga poder substituir pela inteligência a cultura do coração, se torna idiota, duro e insensato.

Sendo assim, fica sabendo que o homem de Deus age por uma lei interna, e não por mandamentos externos. Bebe as águas da fonte, e não dos canais secundários. Sim, essa pessoa vai sempre à origem das coisas, e não se satisfaz com as águas trazidas por canais artificiais.

Não há um versículo bíblico no que está dito, mas alguém pode negar que esse seja o espírito do Evangelho?

Quem pratica esse espírito em seu agir, ver e interpretar, esse encontra paz, e cada vez mergulha mais profundamente no conhecimento de Deus.

O Evangelho só realiza o seu benefício quando deixa de ser doutrina, e se torna espírito e vida.

O justo vive por esta fé!

Caio