quarta-feira, 12 de novembro de 2008

UM PRESIDENTE NEGRO NA CASA BRANCA




















http://www.mariopersona.com.br/cafe/archives/00000240.htm

Achei estranho, muito estranho. Aquilo não era para estar
acontecendo. Na minha opinião os Estados Unidos cometiam um grande
erro ao enterrar seus cidadãos daquele jeito.

Coloquei mais força nos pedais da bicicleta para deixar para trás
a rua que dividia os mortos. Eu tinha acabado de descobrir, no
cemitério perto de casa, em Carthage, Missouri, que de um lado da
rua enterravam os brancos e do outro os negros. Em 1972, aos 16
anos, segregação assim era novidade para mim.

Eu sei que no Brasil existia, só que não amparada por lei ou
religião. Nos EUA a segregação tinha sido abolida no papel dois
anos antes, mas continuava na prática. Na McAuley High School,
escola particular católica onde eu estudava, não encontrei um aluno
negro.

A supremacia branca, defendida por alguns cristãos norte-
americanos, teve sua origem na mitologia pagã anglo-saxônica e
influenciou o pensamento de personalidades tão diferentes quanto
Hitler, Monteiro Lobato e Alan Kardec. Mas na Roma de Constantino a
mistura de elementos cristãos e pagãos já era incentivada, visando
homogeneizar a religião no império. Quem visita o Vaticano encontra
imagens que nada mais são do que representações ou estátuas
recicladas de deuses pagãos, como a de Júpiter, que ocupa o lugar
de São Pedro.

A segregação também tem o respaldo de interpretações equivocadas
da Bíblia, em especial da história dos filhos de Noé. Séculos antes
de católicos e protestantes usarem seu texto para endossar práticas
escravagistas, judeus e muçulmanos já interpretavam o Antigo
Testamento assim. Os árabes foram os primeiros a escravizar negros
etíopes, criando um precedente para a escravidão ditada pela cor da
pele.

A própria Bíblia coloca em xeque essas interpretações, quando
descobrimos que a esposa de Moisés era negra. O bebê Moisés foi
salvo das águas por uma princesa egípcia, cuja aparência estava
mais para a da irmã de Barack Obama do que para a holandesa Nina
Foch, que interpretou a princesa no hollywoodiano "Os Dez
Mandamentos" de Cecil B. DeMille. E não podemos nos esquecer de que
José, Maria e o bebê Jesus encontraram abrigo entre os habitantes
do norte da África.

Mas o maior embaraço para qualquer caucasiano que pretenda usar a
Bíblia para justificar a supremacia branca está na história da
conversão do eunuco, oficial da rainha da Etiópia, no livro de
Atos. O primeiro não-judeu a se converter à fé cristã e a propagar
o cristianismo na África foi um negro. Numa época quando os
bárbaros brancos da Europa ainda ofereciam sacrifícios humanos aos
seus deuses, muitos africanos já falavam de Jesus.

A eleição de Barack Hussein Obama à presidência da maior potência
do planeta muda muita coisa. Para começar, será preciso rever
alguns conceitos de marca e pesquisas de opinião. Há alguns anos
qualquer pesquisa daria como zero a probabilidade de um negro ser
presidente dos EUA.

Depois do 11 de setembro, então, alguém chamado Hussein ou Obama
tinha mais chances de ir parar em Guantánamo do que na Casa Branca.
Ora, os norte-americanos chegaram até a boicotar a mostarda
French's, só porque os franceses não apoiaram a invasão do Iraque.
A questão é que "French" não vem de "francês", mas é o sobrenome do
criador da marca norte-americana de temperos.

O primeiro desafio de Obama foi vencer a segregação dos brancos.
Agora vai precisar vencer a decepção de alguns negros que esperam
uma reversão no tratamento preferencial. Ralph Nader, o perdedor
independente, já insinuou que Obama está mais para "Uncle Tom" do
que para "Uncle Sam". Lá a expressão "Uncle Tom" é pejorativa, e
significa um negro subserviente ao domínio do branco.

Venha o que vier, acho que Abraham Lincoln teria gostado de viver
estes dias. Ele, que combatia a escravidão, um dia encontrou um
político que reclamou de suas idéias. Lincoln argumentou mais ou
menos assim:

"Se você diz que o de pele mais clara pode escravizar o de pele
mais escura, é melhor tomar cuidado. Você pode acabar escravo do
primeiro que encontrar que tiver a pele mais clara do que a sua. Se
não for apenas uma questão de cor, mas de superioridade
intelectual, que você acredita ser característica dos brancos,
então você pode acabar escravizado por alguém mais inteligente do
que você."

---
Mario Persona www.mariopersona.com.br é escritor, palestrante e
consultor de comunicação e marketing.

Um comentário:

cidovieira disse...

Eu acho que simplesmente na vida há sempre a primeira vez,e chegou a primeira vez de um presidente negro nos Estados Unidos, deveria se dizer"um branco na casa negra", mais é exatamente o contrário, no momento negro na história americana que surge um negro quem sabe para clariar toda a situação, não só dos americanos mais quem sabe de todo o Mundo, o negro(Presidente), é a solução, qdo o Senhor Jesus carregava sua própria cruz e caia, situação escura,sofrida e dolorida, quem aparece pra dar a solução?, um negro o ajudou em toda a via dolorosa de jerusalem, foi a solução sim?, esse é o momento da solução americana em todos os aspectos...,é o meu pensamento.