sexta-feira, 30 de maio de 2008

PEDRO E JONAS: HOMEM DO MAR E ‘HOMEM AO MAR’


PEDRO E JONAS: HOMEM DO MAR E ‘HOMEM AO MAR’

Por Caio Fábio: http://www.caiofabio.com

O problema do profeta Jonas era que ele não queria pregar para os Ninivitas, que eram os opressores políticos e econômicos de seu povo. Assim, quando Deus diz: “Prega; ou Nínive será subvertida!”; Jonas pensa: “Oba! Pregar o quê? Vou pregar nada! Essa é a nossa hora!” E foi para o mar, embarcando num navio que ia para Társis, no sul da Espanha de hoje. Ele queria ir para o outro lado do mar.

Pedro também tinha inimigos que ele certamente queria ver aniquilados. Entre esses, além dos romanos, os cobradores de impostos, gente como Mateus, o publicano de Cafarnaum, cidade onde Pedro morava e onde pagava os impostos.

Mateus seria o último homem para quem Pedro iria pregar nas redondezas. Além disso, Mateus era um dos homens mais ricos de toda a região, e tirava sua riqueza do árduo trabalho de gente simples e honesta como Pedro.

O que tornava a situação ainda mais opressiva e amargurante era o fato de que os impostos eram pagos naqueles dias de um modo perverso. No caso de um pescador como Pedro, tudo o que ele pegava no mar era entregue ao coletor de impostos, e, em troca, ele devolvia o ganho do pescador na forma de peixe salgado, de qualidade inferior, e ainda com o valor do imposto deduzido.

Mateus estava para Pedro assim como os Ninivitas estavam para Jonas.

Fugindo de Deus, Jonas acaba sendo jogado ao mar pelos marinheiros do navio, os quais identificaram nele um homem em fuga e sob perseguição dos céus; por isso foi lançado ao mar.

Devendo a Mateus ou aos homens, Pedro tem que trabalhar amargurado. O texto de Lucas 4 parece revelar esse humor alterado de Pedro, quando diz que pescara a noite toda e nada apanhara, mas que, mesmo assim, instado por Jesus, lançaria as redes outras vez para pescar.

E tantos foram os peixes que eles pegaram que estavam quase indo a pique. Mas os peixes recolhidos do mar foram parar nas mãos do coletor de impostos. E, como recompensa, o coletor pagou o milagre com peixe salgado.

Essa era a maneira de Jesus também tocar em Mateus. Sim, Mateus teria que pegar o peixe do milagre e pagar com peixe seco.

Mas Pedro não devia gostar disso, apesar de estar impactado pela Graça.

No entanto, quando Jesus passou mais tarde por Mateus, e disse “Segue-me”, Mateus o seguiu sem hesitação.

O amor constrange!

Jesus amara o inimigo dando a ele o peixe do milagre e recebendo dele peixe seco, charque. Só Deus sabe o que esse ato pode ter provocado na mente de Mateus.

Já o profeta Jonas acaba sendo forçado a pregar aos inimigos, e faz isto com rancor; e, diante do arrependimento deles, se ira, posto que os interesses políticos, ideológicos, e a força dos preconceitos, haviam ainda sobrevivido mesmo à viagem insólita, no fundo do mar, no estômago do grande peixe.

Assim, Jonas se ira com Deus. E o arrependimento dos inimigos o torna mal e hostil, tomado de rancor homicida. E, desse modo, mergulha no mar da amargura e do egoísmo, tendo seus valores tão alterados emocionalmente que é capaz de chorar por uma erva que secara sobre sua cabeça, enquanto não conseguia ter piedade daqueles milhares de Ninivitas que não sabiam discernir entre a mão direita e a esquerda.

Diferentemente dele, Pedro acolhe Mateus, e o chama de irmão, e esquece o peixe seco, e aceita ser com ele pescador de homens.

O resultado é aterrador: Jonas é jogado ao mar e, salvo do mar, mergulha no oceano da amargura e da mesquinharia. Já Pedro é homem do mar, e, sendo tirado do mar, acaba por, um dia, andar sobre as águas.

Isto bem revela que tudo neste mundo é fruto das escolhas do coração.

Amargura sempre submerge o ser no oceano das hostilidades emocionais. É a Síndrome de Jonas.

Amor, acolhimento, perdão e abertura para a Graça, todavia, é o que torna inimigos em irmãos, e faz com que os sapos engolidos um dia sejam logo esquecidos, e, assim, a vida fica tão fácil e leve que o pescador anda sobre as águas.

Obviamente que aqui falo sempre em metáforas. Mas elas são verdadeiras, conforme o testemunho da realidade e da vida.

Quem as entender não se afogará!

Caio

terça-feira, 27 de maio de 2008

O que 147 alces me ensinaram sobre a oração


O que 147 alces me ensinaram sobre a oração

Por Philip Yancey

O autor Brennan Manning, que dirige retiros espirituais várias vezes por ano, certa vez me falou que não há uma pessoa que tenha seguido suas instruções para um retiro de silêncio que não tenha conseguido ouvir a Deus. Intrigado e um pouco cético, eu me inscrevi para um de seus retiros, este com a duração de 5 dias.

Todos os participantes se encontravam com Brennan por uma hora, diariamente, tempo em que ele nos daria algumas tarefas em meditação e trabalho espiritual. Também nos encontrávamos para o culto diário, durante o qual só Brennan falava. Fora disso, nós éramos livres para gastar nosso tempo como quiséssemos, com apenas uma exigência: duas horas de oração por dia.

Eu duvido que eu já tivesse dedicado mais de 30 minutos à oração em alguma outra ocasião, na minha vida. No primeiro dia eu perambulei por uma campina até seu limite, e me sentei no chão, com as costas apoiadas no tronco de uma árvore. Eu tinha trazido comigo a tarefa de Brennan para o dia e um notebook para poder registrar meus pensamentos. Por quanto tempo vou me manter acordado? – eu me perguntava.

Para minha grande sorte, uma manada de 147 alces (eu tive tempo suficiente para contá-los) passeava exatamente no campo em que eu estava sentado. Ver um alce já é excitante; ver 147 alces no seu habitat simplesmente nos faz cativos. Mas logo eu aprendi que observar 147 alces por duas horas é, no mínimo, entediante. Eles abaixavam as cabeças e mastigavam grama. Levantavam as cabeças simultaneamente e olhavam para uma gralha estridente. Abaixavam as cabeças novamente e mastigavam grama. Por duas horas, nada além disso aconteceu. Não houve ataque de leões da montanha; não houve confronto entre búfalos. Todos os alces se inclinavam e mastigavam grama.

Depois de um tempo, a total placidez da cena começou a me afetar. Os alces não tinham se dado conta da minha presença, e eu simplesmente me introduzi no seu ambiente, assimilando o seu ritmo. Já não pensava mais no trabalho que havia deixado em casa, nos prazos de entrega me encarando, na leitura que Brennam havia me indicado. Meu corpo relaxou. No silêncio dominante, minha mente se aquietou.

“Quanto mais aquietada estiver a mente”, escreveu Meister Eckhart, “mais poderosa, de mais valor, mais profunda e mais perfeita será a oração.” Um alce não tem que se trabalhar para ter uma mente aquietada; ele se satisfaz em permanecer num campo o dia inteiro com seus companheiros alces, mastigando grama. Um apaixonado não tem que se esforçar para dispensar atenção à sua amada.

Eu orei pedindo, e num momento fugaz recebi – esse tipo de devoção a Deus que arrebata.

Em nenhuma outra ocasião tornei a ver os alces, embora toda tarde eu procurasse por eles nos campos e floresta. Durante os dias seguintes eu disse muitas palavras a Deus e também me sentei em silêncio na sua presença. Fiz listas e muitas coisas me vieram à mente, mas não teriam vindo se, uma vez, eu não tivesse me sentado no campo por horas. A semana se tornou uma espécie de check-up espiritual que apontou caminhos para um futuro crescimento. Não houve uma voz audível. No entanto, ao final da semana eu tive que concordar com Brennan: eu ouvi Deus.

Eu me tornei mais convencido que nunca que Deus encontra maneiras de se comunicar com aqueles que verdadeiramente o buscam, especialmente quando diminuímos o volume dos ruídos à nossa volta. Eu me lembro de ler o depoimento de uma pessoa que, em sua busca espiritual, interrompeu uma vida atribulada para passar alguns dias num mosteiro. “Eu espero que você tenha uma estadia abençoada”, disse o monge que mostrou ao visitante sua cela. “Se você precisar de alguma coisa, fale conosco, e nós o ensinaremos a viver sem ela.”

Nós aprendemos a orar fazendo orações, e duas horas concentradas por dia me ensinaram muito. Para começar, eu preciso pensar mais em Deus do que em mim, enquanto estou orando. A própria Oração do Senhor foca primeiro naquilo que Deus quer de nós. “Santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade” – Deus quer que desejemos essas coisas, que orientemos nossas vidas nelas.

Com que freqüência eu me chego a Deus não com pedidos de um consumidor, mas simplesmente com o desejo de passar um tempo com Ele, de discernir o quê Ele quer de mim, e não vice versa? Quando eu fiz isso no campo de alces, misteriosamente descobri que a resposta às minhas orações por uma orientação girava em torno da minha pessoa, o tempo todo. Nada mudou, a não ser os meus receptores; através da oração eu os abri para Deus.

Algumas pessoas chamaram a oração meditativa de um ato sem proveito, porque nós a fazemos não com o intuito de conseguir algo, mas espontaneamente, tão inútil quanto uma criança brincando. Depois de um tempo maior com Deus, minhas demandas urgentes, que pareciam tão importantes, passaram a ter um novo enfoque. Eu comecei a pedir por elas para o bem de Deus, não para o meu próprio. Embora minhas necessidades possam me levar a orar, é lá que eu chego face-a-face com minha maior necessidade: um encontro com o próprio Deus.

Traduzido por Talita A. M. Ribeiro - Christianity Today


sexta-feira, 23 de maio de 2008

Altar dos Loucos


http://www.bbcbrasil.com

13 de dezembro, 2007 - 08h42 GMT (06h42 Brasília)

Altar dos Loucos

Francis Schaeffer morreu em 1984, mas, se não fosse por ele, George W. Bush não estaria na Casa Branca, não haveria guerra no Iraque e o mundo provavelmente estaria melhor.

Eu duvido que você saiba quem é Francis Schaeffer. Noventa e nove por cento dos americanos não sabem e até a semana passada eu estava dentro desta estatística. Aprendi com o livro Crazy for God (Louco por Deus).

Francis Schaeffer veio da classe média baixa na Pensilvânia. A mulher Edith, filha de missionários na China, veio de família bem-educada, mas foi ele quem se tornou, de 1960 a 1980, o mais influente líder religioso americano.

Na década de 50, interessados em religião, filosofia e arte, Francis e Edith criaram uma missão evangélica na Suíça, uma espécie de comuna religiosa chamada L'Abri.

Deus, Satã, Darwin, Heidegger, o existencialismo de Sartre estavam nos sermões e nos debates.

Americanos e europeus se reuniam em torno da família Schaeffer – agora com um filho e três filhas.

A mesa era fina, com toalhas brancas e talheres de prata. Comia-se bem, mas os prazeres telúricos terminavam ali. Música, só clássica e aos domingos. Dança, jogos de cartas e álcool, jamais.

A educação era feita em casa e o comportamento rígido vinha de Calvino.

Na decada de 70, quando a direita cristã ainda não existia, o filho Frank convenceu o pai a fazer uma série de filmes e um livro. O titulo de ambos era How Should We Then Live? (Como nós devemos então viver? )

Líderes evangélicos se entusiasmaram com as idéias de Francis Schaeffer, e em poucos anos ele era a principal fonte de idéias dos evangélicos. Bily Graham e outros faziam romarias ao L'Abri para ouvir o mestre que conseguia atrair até jovens.

Pai e filho Schaffer fizeram um outro filme Whatever Happened to the Human Race (O que aconteceu com a raça humana), e Francis publicou o A Christian Manifesto (Um manifesto cristão). Em pouco tempo, se tornaram o cavalo de batalha contra o aborto.

Na década de 80, a direita evangélica já estava a todo vapor liderada por Pat Robertson, James Dobson, Jerry Falwell, Tim LaHaye.

A convite deles, o velho Schaeffer veio fazer sermões no circuito evangélico. Ficou abismado com a ganância, a hipocrisia, a vaidade, a corrupção e a sede de poder dos lideres que suas idéias tinham gerado.

Shaeffer era um homem tolerante em questões sociais e sexuais e nunca condenou o homossexualismo. Gays, mães solteiras e muitos hippies encontravam abrigo seguro no L'Abri.

Viveu grande parte da vida na Suíça e tirava férias na Italia, mas era um otimista com relação aos Estados Unidos.

O maior choque dele foi com a distorção das suas idéias para efeito político e enriquecimento dos evangélicos. Eles fabricaram um cenário americano apocalíptico envenenado pelos gays, feministas, mães solteiras e liberais.

Quanto mais decadente a sociedade, quanto maior o demônio, melhor para os evangélicos. Eles eram o caminho da salvação, mas precisavam de dólares para seus jatos particulares e para eleger seus políticos.

Schaeffer comentou sua grande decepção com os amigos, mas morreu de câncer antes de torná-las publicas.

Quem devassa essa direita cristã é o filho dele, Frank, que, com o pai, inconscientemente gerou os monstros que ele agora denuncia no seu livro Crazy for God : How I Grew Up as One of the Elect, Helped Found the Religious Right and Lived to Take All (or Almost All ) of It Back (Louco por Deus: Como eu cresci como um dos eleitos, ajudei a fundar a direita religiosa e vivi para retirar tudo (ou quase tudo) que disse).

Os evangélicos acham que Frank é um novo Judas e neste momento não estão loucos por Deus. Estão loucos de raiva.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A cultura da época afetou a Inspiração?


A cultura da época afetou a Inspiração?

Não, o Espírito de Deus usa a nossa cultura (costumes, língua, rituais); o Espírito Santo é Deus e Deus não se sujeita a nada.

Não, a mensagem é uma só, o homem dentro da sua cultura transmite a mensagem na íntegra, só que usando os traços culturais do seu povo e da sua época.

Não muda, no NT, é interpretada por Jesus quando ele diz que o cumprimento da lei é o amor; Paulo diz que a lei é santa (e realmente é), mas diz também que Jesus a cumpriu integralmente (o que é absoluta verdade). A ignorância espiritual do homem não deixou ele ver que a lei não é uma lista de 'podes' e 'não-podes' e sim um princípio espiritual que culmina no amor.


Toda cultura da época afetou, sim, os escritos, mas não afetou a mensagem. A Palavra de Deus não é a escrita, mas a mensagem; não é o que é dito, mas o que se quer dizer. Por isso que não podemos entender a Palavra de Deus com nossas mentes naturais, "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus". Não viu Nicodemos, que era mestre em Israel, ficou 'viajando' quando Jesus disse que era necessário nascer de novo.


A sua conclusão de que a Bíblia pode conter partes não inspiradas é simplista demais e equivocada; a conclusão lógica é que você não pode compreednder as coisas de Deus, como Ele próprio diz: "Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos." Você pode, por acaso, colocar o mar dentro da sua caixa d'água? Claro que não, assim é a sua mente em relação a mente de Deus. Existe mentes humanas mais profundas do que a sua (Einstein, por exemplo), quanto mais a mente de Deus, o Eterno.


Vc tem razão a salvação não está na ignorância, mas também na está no racionalismo, humano e 'mixuruca'. A salvação é pela FÉ que vem por ouvir a palavra de Deus, ou seja por REVELAÇÃO.

domingo, 18 de maio de 2008

Favor Imerecido...


Favor Imerecido...

Mt. 13: 10 - "Porque o coração deste povo está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E fecharam seus olhos; Para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E compreendam com o coração, E se convertam, E eu os cure".

Jo. 12: 40 - "Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure".

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Sim, falam exatamente a mesma coisa, pois se referem a Isaías 6: 9, 10.

Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, pois ele é o Criador de todas as coisas, ele não é o Deus que a gente quer que ele seja, mas ele é o Deus que é. Assim como ele criou, ele pode desfazer tudo, portanto ele converte a quem quer e endurece a quem quer. Muitos gostariam que Deus fosse como eles pensam, mas Deus é o que é, podemos amá-lo, conhecê-lo, mas jamais compreendê-lo, pois nossa mente é infinitesimamente pequena, nossos pensamentos não são os seus pensamentos porque os dele são mais altos, nossos caminhos não são os seus caminhos, pois os caminhos dele são mais altos que os nossos.

Mas aprouve a Deus nos salvar pela "loucura da pregação do evangelho". Deus deu a lei para mostrar aos homens que é impossível ter um caráter, um comportamento, de acordo com a Sua justiça, a lei foi dada para que o homem fracassasse na tentativa de ser aquilo que Ele quer que sejamos. Falhando o homem, Deus tem o justo direito de destruir toda a humanidade. Mas ele não quis!!! Ele quis salvar o homem e para isso veio ao mundo em forma humana e cumpriu a lei de A a Z e com isso ganhou o direito, como homem, de entrar no gozo eterno, perdido por Adão e por sua descendência, pois nunca houve quem cumprisse a lei, "não há um justo, nenhum sequer".

E não ficou só aí, ele trocou o seu direito ao paraíso pela punição que estava destinada aos homens, "o castigo que nos traz a paz estava sobre ele". Ele que merecia o gozo ficou com a punição e nós que merecíamos a punição ficamos com a salvação, "pela graça sois salvos, mediante a fé, e isso não vem de vós é dádiva de Deus".

Graça é favor imerecido, é algum bem dado a alguém que não merece, o nosso merecimento é a morte, mas ele quis nos dar a vida, sem a merecermos.

Este é o Deus que eu amo, mas até o amor com que eu o amo não é meu, é dele, "Simão, filho de Jonas, tu me amas?" ("Simon Iona, agapas me pleion touton").

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Síndrome de Nínive

Síndrome de Nínive

Por Thomas Hahn (Blog: Kerigma)

Pois é. Aí Deus disse para Jonas:

Vá até Nínive e dá um jeito naqueles bárbaros assírios. Avisa que se eles não se emendarem de seus caminhos, serão destruídos.

Deus é Deus, mas tudo tem sua hora, o seu momento. É verdade que a turma de Nínive estava abusando da corrupção, da violência, do descaso para com Deus. Mas eram pagãos, não eram? E Deus era o Deus exclusivo da Igreja Evangélica de Jonas, em pleno desenvolvimento espiritual (53% dos membros achavam que tinham crescido espiritualmente nos últimos 12 meses, mercê da fabulosa série de sermões sobre espiritualidade zen proferidas por Jonas).

E se Jonas sofresse um ataque da parte daqueles ímpios? E se não pudesse completar sua série de sermões? Aquilo, sim, é que era obra de Deus!

“Me desculpe Deus”, teria dito Jonas, “Eu vou, sim, mas não para o Norte, para Nínive, mas sim para o Sul, participar de uma conferência (abençoada) sobre, justamente, a Espiritualidade Zen no Contexto Lacasiano.”

O que Jonas não levou em consideração é que sua desobediência a Deus poderia afetar, negativamente, a si próprio (três dias no estômago de um peixe deixam você com um odor meio, digamos, pungente) e à sua Igreja, que começou a viver escândalos e futricas.

Quando, porém, Jonas se arrepende e decide obedecer a Deus, e rumar para Nínive, capital da Assíria, a tempestade se acalmou.

Agora, sua performance em Nínive foi, para dizer o mínimo, amadorística. Principalmente para um profeta com a quilometragem de Jonas. Não foi convidado para dar conferências em igrejas evangélicas, pelo simples motivo de lá não existirem. Ficou tristemente limitado a pregar em praça pública. E, para curiosos e bêbados (além de alguns cachorros).

E a mensagem? Totalmente ultrapassada: Arrependam-se, ou...

Só que Deus era (continua sendo) Deus. Nínive inteira se arrependeu, para o intenso desgosto de Jonas – não eram eles os não-escolhidos de Deus? Que negócio é este? Mas, naquela hora, houve salvação em Nínive.

Os nossos profetas, se os há, estão na fase 1 de Jonas. Interessados em tudo, menos no enfrentamento da corrupção e da violência que subjuga o brasileiro. Não indo para Nínive, não pregando o arrependimento com perdão, ou então a condenação. Não querendo fazer um papelão.

Mas o nosso barco vai afundar, Jonas!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O “JESUS” QUE JESUS NÃO CONHECE!

O “JESUS” QUE JESUS NÃO CONHECE!



por Caio Fábio, do site: www.caiofabio.com.br

Todos os dias encontro pessoas que vivem como bem entendem, mas desejam assim mesmo as bênçãos do Evangelho.

O ardil é simples:

A pessoa não lê a Palavra [exceto em reuniões públicas e a fim de basear o discurso de algum pregador], não conhece Jesus [exceto como nome poderoso nas bocas dos faladores de Deus], não ora [exceto dando gritos de apoio às orações coletivas], não pratica a Palavra [exceto a palavra do profeta do grupo, ou do bispo ou autoridade religiosa da prosperidade ou da maldição], não se compromete com o Evangelho [exceto como dízimo e dinheiro no “Banco de Deus”: a “igreja”]; e, de Jesus, nada sabe; pois, de fato, nada Dele experimenta [exceto como medo].

Entretanto, a pessoa fica pensando que o Evangelho que ela nem sabe o que é haverá de abençoá-la em razão de que ela está sempre no “endereço de Deus”: o templo da “igreja”.

Assim, vivem como pagãos em nome “de um certo Jesus” que não é Jesus conforme o Evangelho; e, mesmo assim, seguem “um evangelho” que não é Evangelho, para, então, depois de um tempo, acharem que o Evangelho não tem poder, posto que acham que já o provaram e de nada adiantou; sem saberem que de fato deram suas vidas a uma miragem, a um estelionato, a uma fantasia de “Deus”.

Milhões pronunciam o nome de Jesus, mas poucos o conhecem numa relação pessoal!

Na realidade o que vejo são pessoas estudando teologia sem conhecerem a Deus; entregando-se ao ministério sem experiência do amor de Deus em si mesmas; brigando pela “igreja” [como grupo de afinidades] sem amarem o Corpo de Cristo em seu real significado; pregando “a mensagem da visão da igreja” julgando que tem algo a ver com a Palavra de Jesus [apenas porque o nome “Jesus” recheia os discursos].

E mais: os que aparentemente sabem o que é o Evangelho e quais são as suas implicações, ou não querem as implicações para as suas vidas pessoais, ou, em outras ocasiões, não querem a sua pratica em razão de que ela acabaria com o “poder” de bruxos que exercem sobre o povo.

Assim, vão se enganando enquanto enganam!

O final é trágico: vivem sem Deus e ensinam as pessoas a viverem na mesma aridez sem Deus na vida!

O amor à Bíblia como livro mágico acabou com o amor à Palavra como espírito e vida!

Não se lê mais a Palavra. As pessoas levam a Bíblia aos “cultos” apenas para figurar na coreografia e na cenografia da reunião — nada mais!

Oração em casa, sozinho, com a porta fechada, e como algo do amor e da intimidade com Deus, quase mais ninguém pratica!

Ora, enquanto as pessoas não voltarem a ler a Palavra, especialmente o Novo Testamento, jamais crescerão em entendimento e jamais provarão o beneficio do Evangelho como Boa Nova em suas vidas.

Há até os que depois de um tempo julgam que o Evangelho é fracassado em razão da “igreja” estar fracassada.

Para tais pessoas a “igreja” não é apenas a “representante de Deus”, mas, também, é o próprio Evangelho!

Que tragédia: um Deus que se faz representar pelo coletivo da doença do “Cristianismo” e que tem “igreja” a encarnação de um evangelho que é a própria negação do ensino de Jesus!

O que esperar como bem para tal povo?

Ora, se não tiverem o entendimento aberto, o que lhes aguarda é apenas frustração, tristeza e profundo cinismo.

Quem puder entender o que aqui digo, faço-o para o seu próprio bem!

Nele, que não é quem dizem que Ele é,

Caio

09/05/08

Lago Norte

Brasília

DF

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Se os tubarões fossem homens.


Se os tubarões fossem homens.

Bertolt Brecht - www.ricardogondim.com.br

“Se os tubarões fossem homens”, perguntou ao sr K. a filha da sua senhoria, “eles seriam mais amáveis com os peixinhos?”. “Certamente”, disse ele.

“Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal como vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca, e tomariam toda espécie de medidas sanitárias. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, então lhe fariam imediatamente um curativo, para que ele não lhes morresse antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem melancólicos, haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar em direção às goelas dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.

O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo, quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que esse futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente.

Acima de tudo, os peixinhos deveriam evitar toda inclinação baixa, materialista, egoísta, marxista, e avisar imediatamente os tubarões se um dentre eles mostrasse tais tendências.

Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, eles iriam proclamar, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não podem se entender.

Cada peixinho que na guerra matasse alguns outros, inimigos, que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, naturalmente haveria também arte entre eles. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores soberbas, e suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos nadando com entusiasmo em direção às goelas dos tubarões, e a música seria tão bela, que a seus acordes todos os peixinhos, com a orquestra na frente, sonhando, embalados nos pensamentos mais doces, se precipitariam nas gargantas dos tubarões.

Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa apenas na barriga dos tubarões.

Além disso, se os tubarões fossem homens também acabaria a idéia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores poderiam inclusive comer os menores.
Isso seria agradável para os tubarões, pois eles teriam, com maior freqüência, bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores, detentores de cargos, cuidariam da ordem entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, construtores de gaiolas etc. Em suma, haveria uma civilização no mar, se os tubarões fossem homens".

Bertolt Brecht em "Histórias do sr. Keuner" - Editora34, p.53

segunda-feira, 5 de maio de 2008

OS GEMIDOS QUE ELEVAM O SER


OS GEMIDOS QUE ELEVAM O SER

por Caio Fábio, do site: www.caiofabio.com

“A ardente expectativa da criação aguarda a manifestação dos filhos de Deus”, disse Paulo.

E ele prossegue dizendo que a criação sofre um adicional de peso de vaidade que sobre ela foi posto, para que ela também seja redimida do cativeiro da corrupção. E afirma que a criação geme e suporta angústias até agora; e não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito em nós.

Assim, para Paulo, quanto mais no Espírito se é e vive, mais se ouvem os gemidos da criação; e mais se entende que ela aguarda ansiosa a sua própria redenção.

Sim, redenção desse ciclo de morte feita com perversidade; e de cujo ciclo, nós, os humanos, somos os agentes de vaidade e dor para as demais criaturas; isto quando nossas ações as extinguem.

Nossa mera existência em desarmonia com Deus, com nós mesmos, com o próximo e com a criação, já abala a existência energética de todas as coisas vivas à nossa volta; isto conforme o profeta Oséias, visto que ele diz que por causa do pecado dos humanos contra os próprios humanos, tanto peixes, quanto aves e árvores, morriam a sua volta.

De fato Paulo diz que nós gememos e suportamos angústias, apesar de sermos as primícias do Espírito entre os humanos; ou seja: apesar de sermos aqueles que olhamos o Universo como tendo o significado do amor de Deus.

Paulo fala de algumas angústias humanas no decurso de sua carta aos Romanos. Primeiro ele fala da dor essencial, da psicose básica de todos os humanos (Rm 7, isso se seguirmos uma lógica existencial). Então ele nos livra dela, dizendo que em Cristo toda a condenação da Lei cessou, e que agora somos filhos e herdeiros de todas as promessas divinas; pois, Deus já se reconciliou conosco, os pródigos universais. Isto porque nós já fomos abraçados; e já recebemos um anel nos nossos dedos e sandálias nos nossos pés, e já foi ordenado o início da festa do Reino (Rm 8 e Lc 15).

No entanto, essa libertação do gemido essencial, e que agora deu lugar ao clamor que chama a Deus de “Aba”, paizinho, não nos isenta de passarmos por muitas tribulações, nas quais devemos aprender a nos gloriar, pois, em todas elas, duas coisas estão acontecendo. Primeiro um processo que faz da tribulação a porta de entrada para a perseverança, a experiência, a esperança, e, conseqüentemente, um profuso derramar do Espírito Santo em nós como certeza, esperança e consolação (Rm 5: 1-5). A segunda tem a ver com a experiência conspiratória que passa a acontecer em nosso favor, mesmo na tribulação; e que é aquela que advém da pessoa estar tão certa da Graça de Deus em tudo, e tão tomada de amor divino e gratidão, que, então, o universo inteiro vira adubo para fazer florescer nela o melhor dela (Rm 8).

“Todas as coisas cooperam conjuntamente para o bem daqueles que amam a Deus...”

Ora, segundo Paulo, esses tais gemidos são misturados com os gemidos do próprio Espírito, o qual, intercede por nós; posto que não sabemos nem mesmo o que nos convém orar e pedir em cada situação da vida.

Assim, de gemedores que gemem com os gemidos da existência e da criação, deflagra-se o Gemido dos gemidos, que é o Gemido do Espírito, sondando as profundezas de Deus, e, segundo a Vontade Sublime, intercedendo por nós, em nossa vitoriosa e gloriosa fraqueza.

Não é possível que um mundo caído não seja feito de gemidos. Milhões de almas ouviram esses gemidos no curso de milênios. Anônimos desde a antiguidade o ouviram; e outros famosos desde a antiguidade, o ouviram também. Dentre os famosos gente como Sidarta (o Buda), Confúcio, Sócrates, e muitos e muitos outros.

Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, entre outros tantos, também ouviram tais gemidos; os quais, não apenas ouviam e sentiam os gemidos da criação, mas receberam de Deus a esperança da Redenção; o que aos demais não foi revelado.

Todos os que ouviram os gemidos da criação sem a revelação da Esperança em Cristo, apenas ouviram e sentiram tais dores, as quais os levaram, na maioria das vezes, a conceber a salvação como “resignação”.

Sidarta é o melhor exemplo disto!

Em Jesus, entretanto, salvação não é “resignação”, mas sim é cura, é refazimento, é plenificação, é festa, é gozo, é mergulho absoluto no que É. E É amor!

Assim, Paulo faz silenciar também como desconforto esse gemido que sentem aqueles que são as primícias do Espírito; e o põe (o gemido) a serviço da esperança e da consolação.

Sim, porque ele diz que desses gemidos a alma olha para além, e, assim, é salva na esperança daquilo que ainda se não vê; pois, se se visse o que se espera, esperança isto já não seria, mas sim a realização da própria salvação absoluta.

Ora, é desse olhar resolvido existencialmente (Rm 7e 8), e que transforma gemido em processo de crescimento (Rm 5), e que geme com os gemidos universais (Rm 8), sem, contudo, se tornar vitimado por eles — pois é olhar que vê através da esperança — que Paulo diz: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

Com tal questão, Paulo nos ensina que nesta existência o que “é contra nós” não é a dor, nem a tribulação, nem as perseguições, nem as aflições, nem a fome, nem a nudez e nem a espada... Mas sim o que nós fazemos da consciência do amor de Deus que pelo Evangelho nos foi transmitida, posto que o que de fato interessa não é se sou ou não poupado de tribulações, mas sim se estou livre do medo, da culpa, da fobia da condenação, do terror do acusador, e de todas essas coisas, as quais, são as únicas que podem nos impedir de provar o amor de Deus como benefício para o existir (Rm 8).

Nada pode nos separar do amor de Deus; porém, uma visão amargurada e desesperança da existência, pode nos impedir de usufruir da segurança que advém da certeza da indissolubilidade e da indivorciabilidade do amor de Deus por nós e por cada pessoinha humana desta Terra; especialmente aquelas que carregam no ser as primícias do Espírito.

Assim, na Graça, todo gemido vira canção de redenção!




Nele,




Caio



Copacabana

Rio

2004

sábado, 3 de maio de 2008

Gente nova, mundo novo.


Gente nova, mundo novo.

por Ariovaldo Ramos em 31 Jan 2008

“Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus”. Mc 1.16-20

Jesus chama homens de seus ofícios para serem pescadores de homens.

Eles eram pescadores por profissão, sabiam tudo sobre o seu ofício: reconhecer quando era tempo bom para a pesca; localizar cardumes segundo espécies; enfim, nada havia de secreto no mar e no caminho dos peixes para eles.

Jesus os chama para fazer o mesmo em relação aos seres humanos: conhecê-los como conheciam aos peixes e ao seu “habitat”.

Agora eles vão pescar pessoas, e há que conhecê-las e às suas circunstâncias, para tanto.

Então, Jesus, antes de tudo, chama pessoas, para serem seus alunos, com objetivo de os apresentar a seres humanos, de ensinar-lhes sobre a sua espécie, para que a compreendam e, portanto, se compreendam em suas circunstâncias, para que possam entender a beleza e a tragédia humana.

E essa é a missão: trazer as pessoas desta angústia para a possibilidade da beleza plena, como indivíduos e como sociedade.

Jesus os chama para serem solidários, para se reconhecerem no próximo e por ele se responsabilizarem - para se verem como parte da grande comunidade humana.

Nesse chamado não há etnocentrismo – pescadores de homens – de todos os membros da única raça que existe: a raça humana.

Os alunos de Jesus serão capazes de reconhecer os seus semelhantes em sua dor, em seu sofrimento, em suas circunstâncias.

Os alunos de Jesus, pela graça, pescarão pessoas da situação em que se encontram para que sejam tornados protagonistas da própria história, e agentes de mudança das circunstâncias que geraram, ou em que foram aprisionados.

Sem novo ser humano não há mundo novo. Os que se esqueceram disso levaram uma surra da história.