sexta-feira, 30 de maio de 2008

PEDRO E JONAS: HOMEM DO MAR E ‘HOMEM AO MAR’


PEDRO E JONAS: HOMEM DO MAR E ‘HOMEM AO MAR’

Por Caio Fábio: http://www.caiofabio.com

O problema do profeta Jonas era que ele não queria pregar para os Ninivitas, que eram os opressores políticos e econômicos de seu povo. Assim, quando Deus diz: “Prega; ou Nínive será subvertida!”; Jonas pensa: “Oba! Pregar o quê? Vou pregar nada! Essa é a nossa hora!” E foi para o mar, embarcando num navio que ia para Társis, no sul da Espanha de hoje. Ele queria ir para o outro lado do mar.

Pedro também tinha inimigos que ele certamente queria ver aniquilados. Entre esses, além dos romanos, os cobradores de impostos, gente como Mateus, o publicano de Cafarnaum, cidade onde Pedro morava e onde pagava os impostos.

Mateus seria o último homem para quem Pedro iria pregar nas redondezas. Além disso, Mateus era um dos homens mais ricos de toda a região, e tirava sua riqueza do árduo trabalho de gente simples e honesta como Pedro.

O que tornava a situação ainda mais opressiva e amargurante era o fato de que os impostos eram pagos naqueles dias de um modo perverso. No caso de um pescador como Pedro, tudo o que ele pegava no mar era entregue ao coletor de impostos, e, em troca, ele devolvia o ganho do pescador na forma de peixe salgado, de qualidade inferior, e ainda com o valor do imposto deduzido.

Mateus estava para Pedro assim como os Ninivitas estavam para Jonas.

Fugindo de Deus, Jonas acaba sendo jogado ao mar pelos marinheiros do navio, os quais identificaram nele um homem em fuga e sob perseguição dos céus; por isso foi lançado ao mar.

Devendo a Mateus ou aos homens, Pedro tem que trabalhar amargurado. O texto de Lucas 4 parece revelar esse humor alterado de Pedro, quando diz que pescara a noite toda e nada apanhara, mas que, mesmo assim, instado por Jesus, lançaria as redes outras vez para pescar.

E tantos foram os peixes que eles pegaram que estavam quase indo a pique. Mas os peixes recolhidos do mar foram parar nas mãos do coletor de impostos. E, como recompensa, o coletor pagou o milagre com peixe salgado.

Essa era a maneira de Jesus também tocar em Mateus. Sim, Mateus teria que pegar o peixe do milagre e pagar com peixe seco.

Mas Pedro não devia gostar disso, apesar de estar impactado pela Graça.

No entanto, quando Jesus passou mais tarde por Mateus, e disse “Segue-me”, Mateus o seguiu sem hesitação.

O amor constrange!

Jesus amara o inimigo dando a ele o peixe do milagre e recebendo dele peixe seco, charque. Só Deus sabe o que esse ato pode ter provocado na mente de Mateus.

Já o profeta Jonas acaba sendo forçado a pregar aos inimigos, e faz isto com rancor; e, diante do arrependimento deles, se ira, posto que os interesses políticos, ideológicos, e a força dos preconceitos, haviam ainda sobrevivido mesmo à viagem insólita, no fundo do mar, no estômago do grande peixe.

Assim, Jonas se ira com Deus. E o arrependimento dos inimigos o torna mal e hostil, tomado de rancor homicida. E, desse modo, mergulha no mar da amargura e do egoísmo, tendo seus valores tão alterados emocionalmente que é capaz de chorar por uma erva que secara sobre sua cabeça, enquanto não conseguia ter piedade daqueles milhares de Ninivitas que não sabiam discernir entre a mão direita e a esquerda.

Diferentemente dele, Pedro acolhe Mateus, e o chama de irmão, e esquece o peixe seco, e aceita ser com ele pescador de homens.

O resultado é aterrador: Jonas é jogado ao mar e, salvo do mar, mergulha no oceano da amargura e da mesquinharia. Já Pedro é homem do mar, e, sendo tirado do mar, acaba por, um dia, andar sobre as águas.

Isto bem revela que tudo neste mundo é fruto das escolhas do coração.

Amargura sempre submerge o ser no oceano das hostilidades emocionais. É a Síndrome de Jonas.

Amor, acolhimento, perdão e abertura para a Graça, todavia, é o que torna inimigos em irmãos, e faz com que os sapos engolidos um dia sejam logo esquecidos, e, assim, a vida fica tão fácil e leve que o pescador anda sobre as águas.

Obviamente que aqui falo sempre em metáforas. Mas elas são verdadeiras, conforme o testemunho da realidade e da vida.

Quem as entender não se afogará!

Caio

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