O que 147 alces me ensinaram sobre a oração
O autor Brennan Manning, que dirige retiros espirituais várias vezes por ano, certa vez me falou que não há uma pessoa que tenha seguido suas instruções para um retiro de silêncio que não tenha conseguido ouvir a Deus. Intrigado e um pouco cético, eu me inscrevi para um de seus retiros, este com a duração de 5 dias.
Todos os participantes se encontravam com Brennan por uma hora, diariamente, tempo em que ele nos daria algumas tarefas em meditação e trabalho espiritual. Também nos encontrávamos para o culto diário, durante o qual só Brennan falava. Fora disso, nós éramos livres para gastar nosso tempo como quiséssemos, com apenas uma exigência: duas horas de oração por dia.
Eu duvido que eu já tivesse dedicado mais de 30 minutos à oração em alguma outra ocasião, na minha vida. No primeiro dia eu perambulei por uma campina até seu limite, e me sentei no chão, com as costas apoiadas no tronco de uma árvore. Eu tinha trazido comigo a tarefa de Brennan para o dia e um notebook para poder registrar meus pensamentos. Por quanto tempo vou me manter acordado? – eu me perguntava.
Para minha grande sorte, uma manada de 147 alces (eu tive tempo suficiente para contá-los) passeava exatamente no campo em que eu estava sentado. Ver um alce já é excitante; ver 147 alces no seu habitat simplesmente nos faz cativos. Mas logo eu aprendi que observar 147 alces por duas horas é, no mínimo, entediante. Eles abaixavam as cabeças e mastigavam grama. Levantavam as cabeças simultaneamente e olhavam para uma gralha estridente. Abaixavam as cabeças novamente e mastigavam grama. Por duas horas, nada além disso aconteceu. Não houve ataque de leões da montanha; não houve confronto entre búfalos. Todos os alces se inclinavam e mastigavam grama.
Depois de um tempo, a total placidez da cena começou a me afetar. Os alces não tinham se dado conta da minha presença, e eu simplesmente me introduzi no seu ambiente, assimilando o seu ritmo. Já não pensava mais no trabalho que havia deixado em casa, nos prazos de entrega me encarando, na leitura que Brennam havia me indicado. Meu corpo relaxou. No silêncio dominante, minha mente se aquietou.
“Quanto mais aquietada estiver a mente”, escreveu Meister Eckhart, “mais poderosa, de mais valor, mais profunda e mais perfeita será a oração.” Um alce não tem que se trabalhar para ter uma mente aquietada; ele se satisfaz em permanecer num campo o dia inteiro com seus companheiros alces, mastigando grama. Um apaixonado não tem que se esforçar para dispensar atenção à sua amada.
Eu orei pedindo, e num momento fugaz recebi – esse tipo de devoção a Deus que arrebata.
Em nenhuma outra ocasião tornei a ver os alces, embora toda tarde eu procurasse por eles nos campos e floresta. Durante os dias seguintes eu disse muitas palavras a Deus e também me sentei em silêncio na sua presença. Fiz listas e muitas coisas me vieram à mente, mas não teriam vindo se, uma vez, eu não tivesse me sentado no campo por horas. A semana se tornou uma espécie de check-up espiritual que apontou caminhos para um futuro crescimento. Não houve uma voz audível. No entanto, ao final da semana eu tive que concordar com Brennan: eu ouvi Deus.
Eu me tornei mais convencido que nunca que Deus encontra maneiras de se comunicar com aqueles que verdadeiramente o buscam, especialmente quando diminuímos o volume dos ruídos à nossa volta. Eu me lembro de ler o depoimento de uma pessoa que, em sua busca espiritual, interrompeu uma vida atribulada para passar alguns dias num mosteiro. “Eu espero que você tenha uma estadia abençoada”, disse o monge que mostrou ao visitante sua cela. “Se você precisar de alguma coisa, fale conosco, e nós o ensinaremos a viver sem ela.”
Nós aprendemos a orar fazendo orações, e duas horas concentradas por dia me ensinaram muito. Para começar, eu preciso pensar mais em Deus do que em mim, enquanto estou orando. A própria Oração do Senhor foca primeiro naquilo que Deus quer de nós. “Santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade” – Deus quer que desejemos essas coisas, que orientemos nossas vidas nelas.
Com que freqüência eu me chego a Deus não com pedidos de um consumidor, mas simplesmente com o desejo de passar um tempo com Ele, de discernir o quê Ele quer de mim, e não vice versa? Quando eu fiz isso no campo de alces, misteriosamente descobri que a resposta às minhas orações por uma orientação girava em torno da minha pessoa, o tempo todo. Nada mudou, a não ser os meus receptores; através da oração eu os abri para Deus.
Algumas pessoas chamaram a oração meditativa de um ato sem proveito, porque nós a fazemos não com o intuito de conseguir algo, mas espontaneamente, tão inútil quanto uma criança brincando. Depois de um tempo maior com Deus, minhas demandas urgentes, que pareciam tão importantes, passaram a ter um novo enfoque. Eu comecei a pedir por elas para o bem de Deus, não para o meu próprio. Embora minhas necessidades possam me levar a orar, é lá que eu chego face-a-face com minha maior necessidade: um encontro com o próprio Deus.
Traduzido por Talita A. M. Ribeiro - Christianity Today
Nenhum comentário:
Postar um comentário